O Ceará contabiliza cerca de 1.684.400 crianças e adolescentes em condições de privação de direitos básicos, segundo levantamento divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) nesta quinta-feira (16). A pesquisa foi baseada nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) e avaliou sete dimensões fundamentais: renda, educação, acesso à informação, água, saneamento, moradia e proteção contra o trabalho infantil.
Em 2023, 73,2% das crianças e adolescentes no Ceará apresentavam algum tipo de privação nas áreas analisadas. Dessas, 1,1 milhão estavam em condição de privação intermediária, enquanto 575 mil enfrentavam privação extrema.
Melhoras, mas desafios persistem
Apesar da situação alarmante, houve uma melhora nos últimos anos. Entre 2019 e 2023, o percentual de jovens em privação de direitos no Ceará caiu de 79,7% para 73,2%, uma redução de 6,5 pontos percentuais.
O maior desafio apontado pelo relatório é o saneamento básico. Em 2023, 48,1% das crianças e adolescentes viviam em casas com banheiros compartilhados com pessoas externas ou com fossas rudimentares, caracterizando privação intermediária. Já 5,9% estavam em condições mais graves, residindo em locais sem banheiro ou com valas a céu aberto.
A renda familiar também é um fator preocupante. Segundo o Unicef, 18,5% das crianças e adolescentes estavam em lares com renda abaixo da linha de pobreza intermediária. Outros 13,8% enfrentavam a pobreza extrema, com condições ainda mais severas.
Impactos de longo prazo
Liliana Chopitea, chefe de políticas sociais do Unicef no Brasil, ressaltou que a pobreza tem efeitos profundos e duradouros sobre crianças e adolescentes. “Qualquer direito não garantido na idade certa pode ter consequências a médio e longo prazo. Isso impacta diretamente o desenvolvimento”, afirmou.
Chopitea também destacou as desigualdades regionais, com o Norte e Nordeste permanecendo como as áreas mais afetadas no país.
O relatório serve como um alerta para a necessidade de políticas públicas mais robustas e específicas, que abordem a pobreza multidimensional e garantam os direitos fundamentais às crianças e adolescentes do Ceará e de todo o Brasil.